Primeiro, porque desde cedo disseram pra gente que 66 é o número da besta ou 666, não importa. Não vai dar mesmo pra listar aqui 666 assustadas razões. Mais: se a gente ficar repetindo este maldito número sem parar, ele vai ficar endiabrado. Vai virar de cabeça pra baixo. Se transformar em 99.
E prometeu se vingar 99 vezes dos meros mortais que, muito burros, resolveram desafiar a besta. Besta é tu! (como na música, lembra). (Você tem medo de quê? Você tem medo de quê? Desafiava o nosso Cazuza afinado com a coragem, show acima, baladas abaixo.)
1 — Medo de baratas — é o terror ainda em estado fetal. Baratas daquelas gigantes cascudas e voadoras. Não dá pra matar, não dá pra encarar a gosma furiosa que pula das tenebrosas bichanas esmagadas, esperneando em plena agonia.
2 — Medo de não ter medo de matar baratas. Que tipo de animal insensível, psicopata é aquele que nem se toca diante da vida… Por mais rasteira e entomológica que ela seja.
3 — Medo do escuro. De apagarem a gente quando menos se espera e nem ter tempo de avisar para o insano do terror de ser apagado. Cruzes.
4 — Pavor da claridade. Imagine que, delirando naquela vibe toda, molhada de desejo, o embevecimento teima secar rapidinho, quando “Ele” enxergar a celulite intrometida, lá nos desconsertos da perna direita.
5 — Medo deles, os machos, de não serem peludos o suficiente pra deixar “Elas” com uma excitação animal — aaaarghh.
6 — Medo de outros, também, que têm uma verdadeira mata atlântica encravada na geografia do corpo. O pobrezinho do bilau se perde, balançando, arrasado, entre as florestas zombeteiras.
7 — Medo de parecer jovem demais pra idade que tem.
8 — De parecer velho decrépito, 10 anos mais idoso do que se é.
9 — Medo de ser muito jovem. De fazer tudo na contramão do social.
10 — Mais: de já ser uma criatura mais madura que uva passa e insistir em manter a luz nesses olhos de criança, toda decidida a curtir a eterna infância.
11— Medo terrível de alturas. Isso tem um nome feio que parece nascido no circo: acrofobia. Aquela tontura de estar bêbado sem estar. De o corpo ficar todo gelado, tremendo mais que bambu travestido de britadeira frenética, estuprando asfalto indefeso.
12 — Medo de ter filho. De ser pai ou mãe.
13 — De chamarem alguém de filho da puta e a pessoa-bumerangue partir a cara de quem o xingou, com o golpe de karatê mais famoso do momento.
14 — Medo de andar depressa, se parecer com o Carlitos, com os pés sempre na posição de relógio, marcando 10 para às 2 horas.
15 — Medo de andar devagar demais e competir com uma tartaruga com lexotan.
16 — Medo de adorar comidas estranhas. Degustar gafanhotos grelhados no espeto, por causa do monte de proteínas que os cientistas já descobriram que os insetos têm.
17 — Medo de morrer com a boca cheia de formigas.
18 — Ou de formigar inteirinho de paixão, quando a emoção pular feito pulga gigante no coração, que ainda por cima pode ser ateu.
19 — Medo de água fria e de ficar sem tomar banho também.
20 — Medo de dar um banho de sabedoria em sala de aula e deixar todo mundo extasiado com o conteúdo compartilhado.
21— Medo de ir a cemitério e depois voltar com a pele cor de cinza. Cinza-funéreo ou cinza-túmulo? Qual tonalidade prefere?
22 — Horror de ir ao dentista, de terno e gravata e se urinar todo na cadeira de torturas. Isso, só de ver aquela seringa maldita apontando pra gengiva, como um cometa dos infernos.
23 — Medo de montanha russa, alemã, argentina — o que importa afinal é a altura do brinquedo, não o país, está claro.
24 — Medo de tomar porre de vinho vagabundo, daqueles de garrafão de boteco e depois ficar arrotando uva podre em locais nada recomendados.
25 — Medo de a dentadura cair no meio da festa de bodas de ouro. Bem na hora de cair de boca no bolo hipnótico — despudorado de tantos morangos.
26 — Medo de tirar zero na prova. De tirar 10. E de, depois do resultado, ter receio de que a própria inveja, de tanto medo, possa sair correndo atrás.
27 — Putz, passar em cima de bueiro distraída e ficar com as calcinhas à mostra. Ui, nem pensar. Ai que delícia, dirão silentes os olhos dos circunstantes.
28 — Sentir enjoo à toa dá medo. Não sentir enjoo algum e estar grávida, preocupa.
29 — E o namorado que tem os caninos pontiagudos? A paranoia já sussurrou nos ouvidos da desconfiança que ele pode se transformar em vampiro. Credo. Todo salivando. Entrando com o dentão direto na jugular. Cadê o alho?!
30 — Medo de gostar de alguém bonito demais. Ou do vizinho que é feio de doer.
31 — Medo de perder a memória com a idade e dela, a memória, não querer mais voltar a dividir espaço com suados neurônios.
32 — Medo de esquecer o nome do terceiro amante. De chamar o marido pelo nome do segundo amante.
33 — Medo de ser fiel demais. Carola até na madrugada do dia das bruxas.
34 — De usar aquele espartilho vermelho-fatal se tornar piriguete de vez.
35 — Tremer nas bases se a filha mais nova virar Maria gasolina, Maria chuteira, Maria purpurina e Maria… arrependida.
36 — Medo de ficar rico demais e se perder no meio da ganância.
37 — Medo de virar pobre mesmo e ficar também pobre de espírito.
38 — De pegar resfriado. De ficar com o gato mais gato da festa e ele sair espirrando sem parar e amaldiçoando o vírus por isso. Quanto desperdício…
39 — Medo de não pagar a promessa feita há 10 anos e cortar as madeixas lindas, que já lambem sedosas o joelho, redondinho e cor de rosa.
40 — Amar os animais demais. De joaninhas, lagartixas a urubus. Poxa, todos são criaturas sagradas, concorda?
41 — Medo de quebrar o molar ao tentar enfrentar uma noz com casca e tudo em plena comemoração natalina. Quem mandou ser descerebrado?
42 — Medo de dizer eu te amo.
43 — De gritar eu te odeio.
44 — De perder a voz e ficar emudecido diante de tão altissonante amor.
45 — De casar e de descasar, a gente também foge muitas vezes.
46 — De engordar demais e explodir com o mundo à volta, que nem a dona redonda da novela da noite. De emagrecer tanto e ficar invisível.
47 — Medo de desafinar bem no meio da ópera. Afinal trata-se de um tenor aclamado internacionalmente.
48 — De ser alto demais e ficar batendo a cabeça em marquises.
49 — De ser tão baixinho que ninguém enxerga nas ruas, só as crianças de até cinco anos que dão bom dia e oferecem balinhas e jujubas.
50 — Pavor de ser honesto demais e ser chamado de bobo.
51 — Apaixonado em excesso e apelidado de idiota.
52 — Estudioso demais e ganhar carimbo de babaca.
53 — Medo de dar gargalhada fora de hora. Em velório por exemplo. Pirou?
54 — De entrar com a cara e a coragem naquele marzão ondulado e nadar até mesmo se perder de vista. Aonde foi parar o horizonte, mesmo?
55 — Também medo de perder a compostura e mandar o síndico do prédio, que ainda por cima é vereador à &*&%#@@.
56 — Medo de chorar sem motivo. Como manteiga derretida e requentada.
57 — Medo de sair da cama com o pé esquerdo e depois, coitado, se transformar em canhoto de vez.
58 — Ficar tão obcecado pela bunda da colega de faculdade que acabará estrábico.
59 — Medo de avião. E se alguém lá em cima resolver virar pássaro?
60 — Medo de criar joanete que nem o pai. Mas o médico já disse que não terá.
61 — De dizer sim sempre, antes da frase completa. De ser sempre do contra.
62 — Medo de ser seguido por muita gente no Twitter ou Facebook que fica de olho em tudo o que você faz, a cada minuto do seu dia.
63 — Medo de ter todos os seus avatares na web desvendados.
64 — Todas as suas senhas descobertas e invadidas pelos crackers (hackers do mal).
65 — Medo de ser tão rebelde a ponto de não querer mais terminar esta crônica.
66 — Agora, que chegamos ao 66º motivo, responsável pelo surgimento de todos os 65 medos anteriores, como fica o pavor de ter nascido exatamente na data fatídica: em 06/06/1966? E de não ter conseguido nascer depois, em 09/09/1999. (Aliás, vamos combinar, nem dando cambalhota, isso é possível, né.)
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