sábado, 28 de agosto de 2010

Da Pérsia ao Irã

De Pérsia a Irã

[Há alguns anos] muitos iranianos de todas as tendências – fascistas, monarquistas, nacionalistas, reformistas, liberais, mesmo alguns esquerdistas, e até certos religiosos de linha dura –, quer vivendo no Irã ou no exterior, foram tomados por um fervor nacionalista. E qual, você pode perguntar, foi a causa fundamental desse momento raro de unidade entre os iranianos? O fato foi que um atlas publicado pela National Geographic incluíu entre parênteses as palavras “Golfo Árabe” ao lado de “Golfo Pérsico”. Dessa forma, surgiu uma campanha para convencer o mundo de que o verdadeiro nome é Golfo Pérsico.
É verdade que o Golfo Pérsico tem sempre sido chamado de “Golfo Pérsico” na maior parte da história registrada. Também é verdade que, na mesma região, existe o “Mar de Omã”, e ao lado dele temos o “Mar da Árábia”. Não há motivo para que se troque o nome de “Golfo Pérsico” por “Golfo Árabe”, pois isso geraria mais confusão.
Entretanto, será que aqueles que estão interessados no progresso e na democracia do Irã deveriam concentrar seu tempo e sua energia em ensinar a todos sobre o nome do golfo? Não seria mais produtivo devotar esforços para fazer as conexões históricas entre Irã, iraniano, farsi e persa? Não faria mais sentido estudar os fatos básicos da história persa e mundial para que pudéssemos mudar o presente e trabalhar em direção a um futuro melhor?
Nesse ponto, a grande maioria dos não-iranianos nem sequer imagina que iraniano, farsi e persa se referem à mesma civilização e à mesma língua. Na melhor das hipóteses, eles acham que a Pérsia é uma região maior que o Irã; na pior das hipóteses, eles pensam que persa é uma civilização que desapareceu juntamente com os hititas (que habitavam onde hoje é a Turquia) ou com os babilônios (que habitavam onde hoje é o Iraque). Eles acham que farsi é um novo dialeto remotamente relacionado ao persa. Eles imaginam que persa é um tipo de gato, um estilo de tapete, ou um tapete voador de algum lugar exótico no Oriente.
Os fatos básicos da história persa precisam ser esclarecidos antes que nos concentremos em instruir as pessoas sobre o nome “Golfo Pérsico”. Mesmo que sejamos bem-sucedidos em convencer a todos no mundo (inclusive aos xeques árabes em seus haréns) a usarem o nome “Golfo Pérsico”, a conexão desse nome com o Irã ainda será problemática nas mentes de muitos.
Para ser claro, na Pérsia chamamos o Golfo Pérsico de Khalij-e “Fars”. Em 1935, o governo da Pérsia solicitou ao mundo que parasse de utilizar a palavra “persa” e que, em vez dela, usasse a palavra “iraniano”. Mesmo assim, agora queremos que o golfo seja chamado de Pérsico. Qual é o motivo da confusão entre os nomes persa e iraniano? Nos últimos 2600 anos, até 1935, seguindo uma convenção que regulamentava os nomes e que foi iniciada pelos antigos gregos, em todas as línguas ocidentais o que hoje é conhecido como Irã era a “Pérsia”, uma palavra diferente da palavra usada em persa, que sempre foi “Irã”.
Há muitos outros exemplos dessas convenções que regulamentam nomes no mundo. Os indianos chamam seu próprio país de “Bharat”, os egípcios chamam sua terra de “Missr”, na Finlândia eles chamam seu país de “Suomi”, os japoneses chamam sua nação de “Nihon”, e os alemães chamam seu país de “Deutschland”.
Justamente por isso, a língua da Pérsia (Irã) sempre foi internacionalmente conhecida como persa. As convenções que regulamentavam o nome de Pérsia (ou seja, Irã) foram alteradas em 1935. Diz-se que a sugestão para a mudança de nome de Pérsia para Irã veio do embaixador persa na Alemanha, que era um simpatizante do nazismo.
Em 1935, a Alemanha era governada por Hitler. O arianismo foi equiparado pelos nazistas ao mais alto nível de civilização humana, em um artigo de fé baseado em uma hipérbole hegeliana vulgar. Aparentemente, o embaixador persa foi persuadido por seus amigos nazistas de que Pérsia ficaria melhor como aliada da Alemanha nazista. Além disso, ele foi convencido de que o país deveria ser chamado por seu nome persa, ou seja, Irã, nas línguas ocidentais.
Isso era para sinalizar um novo começo e relembrar ao mundo a nova era na história iraniana, história que iria enfatizar o aspecto ariano de seu povo. A palavra “iraniano” é um cognato da antiga palavra “ariano”. O ministro do Exterior persa enviou um comunicado a todas as embaixadas estrangeiras em Teerã, requisitando que o país fosse chamado de “Irã”.
O imperador persa Ciro, o Grande, ordenou a reconstrução do Templo em Jerusalém (Esdras 1). No quadro: Ciro com os hebreus.


Infelizmente, “Irã” era uma palavra estranha para os não-iranianos, e muitos não conseguiram reconhecer suas conexões com a Pérsia histórica. Alguns (ocidentais) pensavam que esse fosse talvez um dos novos países, como o Kuwait, ou a Jordânia, estabelecidos a partir das ruínas do Império Otomano, ou como o “Paquistão”, criado a partir da Índia. Até hoje, muitos ainda confundem o Irã com o Iraque.
A confusão ficou ainda pior por causa do uso da palavra farsi, que é a palavra persa para “persa/pérsico”, assim como “deutsch” é a palavra alemã para alemão. E, para ficar ainda pior, para propósitos de comercialização, Rumi e outros poetas persas são apresentados pelos editores como poetas sufis e não como poetas persas.
De maneira geral, Dante é conhecido como sendo italiano e Shakespeare é conhecido como sendo britânico. Mas a maioria dos americanos conhece Rumi como um “poeta sufi”, vindo de algum lugar do Oriente, como se sufi fosse uma nacionalidade. Como indicam as referências em grande parte dos textos europeus (por exemplo, de Schopenhauer, Nietzsche, Hegel, Montesquieu, etc.), a civilização persa tem sido muito conhecida na filosofia e na cultura européias por séculos.
Para os persas (iranianos) de hoje, o nome “Irã’ se refere a uma civilização rica e histórica. Para a maioria dos não-iranianos, Irã é um país no Oriente Médio com uma identidade mais ou menos islâmica, e sem nenhuma relação clara com a “Pérsia” histórica.
Vejamos um outro exemplo interessante: o nome do Mar Cáspio. Atualmente, na maior parte das línguas orientais, inclusive o persa e o turco, o Mar Cáspio é chamado de Mar dos Khazares. O nome se refere ao povo khazar, que habitava uma área que se estendia desde as montanhas do Cáucaso até a Ucrânia Central, desde o século V até o século XIII, e cuja civilização desapareceu depois de sucessivos ataques pelos mongóis.
Os khazares eram um povo turco cuja origem deu-se na Ásia Central. No início, os khazares acreditavam no xamanismo, falavam a língua turca e eram nômades. Mais tarde, os khazares adotaram o judaísmo, o islamismo, e o cristianismo, e se estabeleceram em cidades e vilarejos que eles mesmos construíram por toda a região norte do Cáucaso e da Ucrânia Oriental. Os khazares tinham a tradição de tolerância religiosa. Kiev, a capital da Ucrânia moderna, foi fundada pelos khazares. Kiev é um nome turco (ki = margem do rio + ev = assentamento).
O escritor judeu húngaro Arthur Koestler afirmou em seu cuidadoso trabalho de pesquisa, The Thirteenth Tribe [A Décima-Terceira Tribo] (1976), que muitos do khazares se converteram ao judaísmo. Ele também documenta que os khazares foram forçados a migrar para a Europa Oriental, suportando ataques dos mongóis vindos do Oriente no século XIII [N.R.: Koestler conclui que os judeus asquenazim são descendentes dos khazares, o que não é correto – a respeito, leia o artigo Os Khazares e os Judeus]. Por meio de uma interessante guinada da história, os ocidentais hoje se referem ao Mar Cáspio usando o antigo nome latino da histórica cidade de Qazvin (no Irã atual), enquanto os persas e os turcos se referem a ele como o Mar dos Khazares, nome recebido em homenagem a uma orgulhosa civilização que desapareceu bastante tempo atrás.
Discussões superficiais isoladas sobre o Golfo Pérsico são mal colocadas. Elas desviam a nossa atenção de problemas mais básicos. Se algo tiver que ser feito a partir do ponto de vista da colocação de nomes para promover um melhor entendimento da cultura e da história persas, seria muito mais sensato mudar oficialmente o nome do Irã de volta para Pérsia, farsi e iraniano de volta para persa, em todas as línguas ocidentais.
Isso pode ser alcançado através de uma campanha que irá educar as pessoas a respeito da civilização persa de uma maneira clara e progressiva, através de um diálogo que irá enfatizar as contribuições da Pérsia para o mundo, sem atacar nem reivindicar superioridade sobre outros povos do Oriente Médio: os árabes, os turcos, os judeus, os armênios, e os curdos.
A rainha judia Ester pediu clemência para o seu povo ao rei persa Assuero.


Os tapetes persas, os gatos persas, o Império Persa, a Pérsia que Alexandre Magno tanto se orgulhava de haver vencido, a Pérsia sobre a qual o historiador grego Heródoto escreveu em seu livro clássico As Guerras Médicas, a civilização persa sobre a qual Hegel escreveu em seu livro clássico A Filosofia da História, Sherazade, que contava histórias ao Califa de Bagdá nos contos As Mil e Uma Noites, Ibn-e Sina (Avicena), cujos trabalhos de medicina foram ensinados na Europa durante séculos, Hafez, o grande astrônomo e poeta que era admirado por Goethe, Omar Khayyam, Rumi (Mowlana Jalaluddin Rumi) eram todos persas, eram da Pérsia, o mesmo país que desde 1935 tem sido conhecido no Ocidente como Irã, através de um estranho acidente da história.
Na Europa Ocidental, após longos períodos de guerras e de violência (culminando na selvageria da Segunda Guerra Mundial), eles finalmente optaram pela cooperação entre as nações e a formação de uma União Européia. Pode vir uma época em que os povos do Oriente Médio superarão o atraso cultural existente e viverão em harmonia e rica troca cultural uns com os outros. Eles aprenderão a colaborar uns com os outros e a não reivindicar superioridade uns sobre os outros. (Fouad Kazem, www.iranian.com)
Essas explicações são muito instrutivas e interessantes, especialmente nesta época em que o Irã aparece quase todos os dias nas manchetes. Devido à crescente aproximação do governo brasileiro com o regime de Teerã, também é importante manter-se informado sobre a antiga Pérsia – especialmente quanto ao seu papel nos eventos proféticos.
É compreensível a esperança do autor – por não ter o referencial bíblico – a respeito da futura convivência pacífica das nações no Oriente Médio, tomando como exemplo o aparente sucesso da União Européia (UE) em estabelecer a paz entre os povos.* Isso, porém, só acontecerá depois que os países islâmicos que atacarem Israel (juntamente com Gogue [a Rússia] - veja Ezequiel 38 e Ezequiel 39) forem julgados e quando for estabelecido o reino de paz milenar do Messias (veja Isaías 2.2-4; Isaías 11.6-9; Apocalipse 20.1-6)

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