A guerra de Israel em Gaza foi recebida com brados de protesto ao redor do mundo. Eles vieram de duas fontes:
Primeiro, há aqueles que se opõem a qualquer esforço israelense de auto-defesa, principalmente porque acham que um Estado judeu nem mesmo deve existir. Essa é uma forma de anti-semitismo, e tal ponto de vista deveria ser logo descartado, sem que se argumente contra ele.
Em segundo lugar, há aqueles que apóiam a existência de Israel, mas acreditam que foi errado promover um ataque tão duro contra a Faixa de Gaza.
Esse argumento assume duas formas: (1) que a resposta de Israel é desproporcional e, portanto, errada; e, (2) que há formas menos violentas de lidar com o Hamas – através de pressões internacionais, sanções ou negociações.
As duas alegações, por mais lógicas que possam parecer, ignoram as lições da história, inclusive a história recente de Israel no combate ao terrorismo. Nos dez anos em que servi como ministro no Gabinete de segurança de Israel, aprendi como tais argumentos podem ser equivocados.
Praticando o comedimento
Em 1º de junho de 2001, um homem-bomba suicida atacou a entrada da discoteca Dolphinarium em Tel Aviv. Vinte e um israelenses, em sua maioria jovens, foram mortos e mais de 130 ficaram feridos. Esse foi o último de uma série de ataques suicidas que tinham sido lançados desde o início da Segunda Intifada em setembro de 2000.
No dia seguinte, participei de uma reunião dramática do Gabinete para discutir nossas opções – uma reunião realizada no Shabbat, justificável apenas por uma emergência real. A maior parte dos ministros achava que era necessário tomar medidas decisivas.
Oficiais militares apresentaram um plano para erradicar a infra-estrutura do terror, através de uma campanha complexa no coração das cidades e dos campos de refugiados palestinos. Apesar do ataque ter sido cometido pelo Hamas, estava claro que o líder palestino Yasser Arafat tinha lhe dado luz verde. Tínhamos tanto o direito quanto a capacidade para contra-atacar.
No decorrer da reunião, porém, nosso ministro do Exterior entrava e saía da sala, falando [pelo telefone] com líderes mundiais, transmitindo-nos o que tinham dito. Sua mensagem era clara: no momento, Israel contava com a simpatia da comunidade internacional.
Enquanto mantivermos nossa resposta militar no mínimo, o mundo continuará do nosso lado, e a crescente pressão diplomática irá controlar o terrorismo, disse ele. Mas, se lançarmos um ataque em grande escala contra os terroristas, arriscamo-nos a perder o apoio mundial e a transformar Arafat de agressor em vítima.
Resposta proporcional
Finalmente, o primeiro-ministro foi convencido pela abordagem dele, e tomou-se a decisão de adotar uma resposta proporcional – ataques localizados a células terroristas, operações especiais, prisões – e de permitir que a diplomacia exercesse sua mágica.
Nos próximos nove meses, Israel moderou seu fogo, e o mundo realmente condenou o terrorismo. Mas os ataques simplesmente aumentaram.
No coração de Tel Aviv e Jerusalém, homens-bomba suicidas explodiram cafeterias, ônibus e hotéis. A vida noturna acabou, o turismo foi dizimado e os hotéis tiveram de despedir a maior parte dos seus trabalhadores. Um dos meus colegas no governo, Rehavam Ze’evi, foi abatido por terroristas.
Nesse meio-tempo, os EUA sofreram seu próprio ataque terrorista em 11 de setembro [de 2001] e fizeram intensas pressões sobre nós para que não retaliássemos contra os palestinos, com medo de que isso complicasse sua própria guerra com a Al-Qaeda.
A situação chegou a um clímax em março de 2002, quando mais de 130 israelenses foram mortos num só mês – sendo que o ataque mais infame ocorreu em 27 de março, na véspera da Páscoa, no Park Hotel em Netanya.
No dia seguinte, o Gabinete reuniu-se – novamente num encontro extraordinário durante um feriado religioso. A reunião começou às 6 da tarde e prosseguiu durante toda a noite.
Dessa vez, porém, o governo decidiu lançar a Operação Escudo Defensivo – o mesmo plano que as Forças de Defesa de Israel (FDI) tinham apresentado no ano anterior.
Piores temores
Na arena internacional, concretizaram-se nossos piores temores.
As Nações Unidas nos condenaram, os EUA enviaram o secretário de Estado Colin Powell para nos dizer que deveríamos parar imediatamente com os ataques. A mídia global montou uma campanha brutal para nos retratar como criminosos de guerra, espalhando falsos rumores sobre a matança indiscriminada de civis palestinos, descrevendo a operação como a pior atrocidade da história moderna.
O mais chocante desses rumores foi o libelo de Jenin, que foi mostrado em um filme produzido basicamente a partir da imaginação fértil do seu diretor, e então apresentado ao redor do mundo.
Não vinha ao caso que, na realidade, Israel tinha tomado medidas sem precedentes para minimizar o número de vítimas civis, até mesmo deixando de usar bombardeios aéreos ou fogo de artilharia, fazendo seus próprios soldados assumirem riscos sem precedentes; ou que a comissão da ONU criada para investigar Jenin foi logo dissolvida por falta de evidências; ou que o diretor do filme admitiu ter ludibriado seu público.
Reputação destruída
Durante anos, o “Massacre de Jenin” foi a peça central da máquina de propaganda anti-israelense, reverberando pela Europa e nos campi americanos, como símbolo da iniquidade israelense. Nossa reputação estava em frangalhos.
Entretanto, tudo isso foi um preço baixo a pagar por aquilo que Israel ganhou. Em poucas semanas o terrorismo palestino foi desativado, e o número de israelenses mortos caiu de centenas por mês para menos de uma dúzia no decorrer do ano seguinte. A economia voltou a se movimentar.
Não menos importante foi o efeito que a Operação Escudo Defensivo teve sobre os próprios palestinos. Com a infra-estrutura terrorista removida, os palestinos puderam iniciar a reconstrução das suas instituições civis e mudar sua atitude em relação à violência.
No decorrer do tempo, a política de promoção do terror de Arafat foi substituída pela abordagem bem mais cautelosa do seu sucessor, Mahmoud Abbas.
Renascimento da Margem Ocidental
Em mais de seis anos desde a operação, a economia da Margem Ocidental floresceu. Se há esperança na Margem Ocidental hoje em dia, é porque Israel abandonou as idéias de proporcionalidade e diplomacia para lidar com o terrorismo.
Os palestinos da Margem Ocidental sabem disso; por essa razão não se juntaram à condenação mundial desenfreada de Israel pela guerra em Gaza. Enquanto dezenas de milhares protestaram na Europa, a maior parte dos moradores da Margem Ocidental ficou silenciosa.
Entender a guerra em Gaza significa reconhecer as lições de 2002. Durante os três anos que se passaram após a retirada de todas as tropas e dos assentamentos da Faixa de Gaza em 2005, Israel optou por responder de modo proporcional e diplomaticamente aos ataques mortais diários do Hamas com seus foguetes.
O resultado? Mais foguetes, mais mísseis, mais miséria para os palestinos – e espaço suficiente para o Hamas tomar conta da Faixa de Gaza, devastar sua sociedade, montar um arsenal muito mais poderoso do que o que tinha em 2005 e tornar-se a vanguarda do expansionismo iraniano na região.
Tratamento do câncer
O terrorismo é um câncer que não pode ser curado por tratamentos “proporcionais”. Ele exige cirurgias invasivas. Ele não somente ameaça Estados democráticos, mas também – principalmente – os civis locais que são obrigados a se juntar às suas fileiras fanáticas, usados como escudos humanos e devastados pela sua tirania.
Quanto mais se espera para tratá-lo, pior ele fica, e mais severo torna-se o tratamento necessário para vencê-lo.
No Sul do Líbano, onde Israel falhou em derrotar os terroristas em 2006, a enfermidade se espalhou: o Hezb’allah (Partido de Alá) tem agora três vezes mais mísseis do que antes, e os terroristas têm o governo libanês sob seu controle.
Exatamente como em 2002, Israel optou por combater o coração do terrorismo [em Gaza], enfrentando denúncias de todo o mundo, manifestações de multidões, resoluções da ONU e falatórios sobre crimes contra a humanidade. Agora, como naquele tempo, essa foi a decisão correta.
A operação foi dolorosa: o número de civis feridos e mortos, apesar de ser muito inferior à de campanhas comparáveis em outras partes do mundo, certamente é intoleravelmente elevada – um reflexo da extensão e profundidade da infra-estrutura terrorista que cresceu ali nos últimos três anos.
Como em 2002, os beneficiários reais do sucesso da campanha israelense serão os próprios palestinos. A paz somente será alcançada quando for dada aos palestinos a liberdade de construir instituições civis reais, e quando puder emergir uma liderança sem medo de dizer aos seus próprios cidadãos que a violência, o fanatismo e o martírio não são o caminho que deve ser seguido pelos palestinos.
Mas isso somente poderá acontecer depois que a malignidade do terrorismo for removida do seu meio. Por mais desagradável que isso soe, essa é a única fonte de esperança para Gaza.
Primeiro, há aqueles que se opõem a qualquer esforço israelense de auto-defesa, principalmente porque acham que um Estado judeu nem mesmo deve existir. Essa é uma forma de anti-semitismo, e tal ponto de vista deveria ser logo descartado, sem que se argumente contra ele.
Em segundo lugar, há aqueles que apóiam a existência de Israel, mas acreditam que foi errado promover um ataque tão duro contra a Faixa de Gaza.
Esse argumento assume duas formas: (1) que a resposta de Israel é desproporcional e, portanto, errada; e, (2) que há formas menos violentas de lidar com o Hamas – através de pressões internacionais, sanções ou negociações.
As duas alegações, por mais lógicas que possam parecer, ignoram as lições da história, inclusive a história recente de Israel no combate ao terrorismo. Nos dez anos em que servi como ministro no Gabinete de segurança de Israel, aprendi como tais argumentos podem ser equivocados.
Praticando o comedimento
Em 1º de junho de 2001, um homem-bomba suicida atacou a entrada da discoteca Dolphinarium em Tel Aviv. Vinte e um israelenses, em sua maioria jovens, foram mortos e mais de 130 ficaram feridos. Esse foi o último de uma série de ataques suicidas que tinham sido lançados desde o início da Segunda Intifada em setembro de 2000.
No dia seguinte, participei de uma reunião dramática do Gabinete para discutir nossas opções – uma reunião realizada no Shabbat, justificável apenas por uma emergência real. A maior parte dos ministros achava que era necessário tomar medidas decisivas.
Oficiais militares apresentaram um plano para erradicar a infra-estrutura do terror, através de uma campanha complexa no coração das cidades e dos campos de refugiados palestinos. Apesar do ataque ter sido cometido pelo Hamas, estava claro que o líder palestino Yasser Arafat tinha lhe dado luz verde. Tínhamos tanto o direito quanto a capacidade para contra-atacar.
No decorrer da reunião, porém, nosso ministro do Exterior entrava e saía da sala, falando [pelo telefone] com líderes mundiais, transmitindo-nos o que tinham dito. Sua mensagem era clara: no momento, Israel contava com a simpatia da comunidade internacional.
Enquanto mantivermos nossa resposta militar no mínimo, o mundo continuará do nosso lado, e a crescente pressão diplomática irá controlar o terrorismo, disse ele. Mas, se lançarmos um ataque em grande escala contra os terroristas, arriscamo-nos a perder o apoio mundial e a transformar Arafat de agressor em vítima.
Resposta proporcional
Finalmente, o primeiro-ministro foi convencido pela abordagem dele, e tomou-se a decisão de adotar uma resposta proporcional – ataques localizados a células terroristas, operações especiais, prisões – e de permitir que a diplomacia exercesse sua mágica.
Nos próximos nove meses, Israel moderou seu fogo, e o mundo realmente condenou o terrorismo. Mas os ataques simplesmente aumentaram.
No coração de Tel Aviv e Jerusalém, homens-bomba suicidas explodiram cafeterias, ônibus e hotéis. A vida noturna acabou, o turismo foi dizimado e os hotéis tiveram de despedir a maior parte dos seus trabalhadores. Um dos meus colegas no governo, Rehavam Ze’evi, foi abatido por terroristas.
Nesse meio-tempo, os EUA sofreram seu próprio ataque terrorista em 11 de setembro [de 2001] e fizeram intensas pressões sobre nós para que não retaliássemos contra os palestinos, com medo de que isso complicasse sua própria guerra com a Al-Qaeda.
A situação chegou a um clímax em março de 2002, quando mais de 130 israelenses foram mortos num só mês – sendo que o ataque mais infame ocorreu em 27 de março, na véspera da Páscoa, no Park Hotel em Netanya.
No dia seguinte, o Gabinete reuniu-se – novamente num encontro extraordinário durante um feriado religioso. A reunião começou às 6 da tarde e prosseguiu durante toda a noite.
Dessa vez, porém, o governo decidiu lançar a Operação Escudo Defensivo – o mesmo plano que as Forças de Defesa de Israel (FDI) tinham apresentado no ano anterior.
Piores temores
Na arena internacional, concretizaram-se nossos piores temores.
As Nações Unidas nos condenaram, os EUA enviaram o secretário de Estado Colin Powell para nos dizer que deveríamos parar imediatamente com os ataques. A mídia global montou uma campanha brutal para nos retratar como criminosos de guerra, espalhando falsos rumores sobre a matança indiscriminada de civis palestinos, descrevendo a operação como a pior atrocidade da história moderna.
O mais chocante desses rumores foi o libelo de Jenin, que foi mostrado em um filme produzido basicamente a partir da imaginação fértil do seu diretor, e então apresentado ao redor do mundo.
Não vinha ao caso que, na realidade, Israel tinha tomado medidas sem precedentes para minimizar o número de vítimas civis, até mesmo deixando de usar bombardeios aéreos ou fogo de artilharia, fazendo seus próprios soldados assumirem riscos sem precedentes; ou que a comissão da ONU criada para investigar Jenin foi logo dissolvida por falta de evidências; ou que o diretor do filme admitiu ter ludibriado seu público.
Reputação destruída
Durante anos, o “Massacre de Jenin” foi a peça central da máquina de propaganda anti-israelense, reverberando pela Europa e nos campi americanos, como símbolo da iniquidade israelense. Nossa reputação estava em frangalhos.
Entretanto, tudo isso foi um preço baixo a pagar por aquilo que Israel ganhou. Em poucas semanas o terrorismo palestino foi desativado, e o número de israelenses mortos caiu de centenas por mês para menos de uma dúzia no decorrer do ano seguinte. A economia voltou a se movimentar.
Não menos importante foi o efeito que a Operação Escudo Defensivo teve sobre os próprios palestinos. Com a infra-estrutura terrorista removida, os palestinos puderam iniciar a reconstrução das suas instituições civis e mudar sua atitude em relação à violência.
No decorrer do tempo, a política de promoção do terror de Arafat foi substituída pela abordagem bem mais cautelosa do seu sucessor, Mahmoud Abbas.
Renascimento da Margem Ocidental
Em mais de seis anos desde a operação, a economia da Margem Ocidental floresceu. Se há esperança na Margem Ocidental hoje em dia, é porque Israel abandonou as idéias de proporcionalidade e diplomacia para lidar com o terrorismo.
Os palestinos da Margem Ocidental sabem disso; por essa razão não se juntaram à condenação mundial desenfreada de Israel pela guerra em Gaza. Enquanto dezenas de milhares protestaram na Europa, a maior parte dos moradores da Margem Ocidental ficou silenciosa.
Entender a guerra em Gaza significa reconhecer as lições de 2002. Durante os três anos que se passaram após a retirada de todas as tropas e dos assentamentos da Faixa de Gaza em 2005, Israel optou por responder de modo proporcional e diplomaticamente aos ataques mortais diários do Hamas com seus foguetes.
O resultado? Mais foguetes, mais mísseis, mais miséria para os palestinos – e espaço suficiente para o Hamas tomar conta da Faixa de Gaza, devastar sua sociedade, montar um arsenal muito mais poderoso do que o que tinha em 2005 e tornar-se a vanguarda do expansionismo iraniano na região.
Tratamento do câncer
O terrorismo é um câncer que não pode ser curado por tratamentos “proporcionais”. Ele exige cirurgias invasivas. Ele não somente ameaça Estados democráticos, mas também – principalmente – os civis locais que são obrigados a se juntar às suas fileiras fanáticas, usados como escudos humanos e devastados pela sua tirania.
Quanto mais se espera para tratá-lo, pior ele fica, e mais severo torna-se o tratamento necessário para vencê-lo.
No Sul do Líbano, onde Israel falhou em derrotar os terroristas em 2006, a enfermidade se espalhou: o Hezb’allah (Partido de Alá) tem agora três vezes mais mísseis do que antes, e os terroristas têm o governo libanês sob seu controle.
Exatamente como em 2002, Israel optou por combater o coração do terrorismo [em Gaza], enfrentando denúncias de todo o mundo, manifestações de multidões, resoluções da ONU e falatórios sobre crimes contra a humanidade. Agora, como naquele tempo, essa foi a decisão correta.
A operação foi dolorosa: o número de civis feridos e mortos, apesar de ser muito inferior à de campanhas comparáveis em outras partes do mundo, certamente é intoleravelmente elevada – um reflexo da extensão e profundidade da infra-estrutura terrorista que cresceu ali nos últimos três anos.
Como em 2002, os beneficiários reais do sucesso da campanha israelense serão os próprios palestinos. A paz somente será alcançada quando for dada aos palestinos a liberdade de construir instituições civis reais, e quando puder emergir uma liderança sem medo de dizer aos seus próprios cidadãos que a violência, o fanatismo e o martírio não são o caminho que deve ser seguido pelos palestinos.
Mas isso somente poderá acontecer depois que a malignidade do terrorismo for removida do seu meio. Por mais desagradável que isso soe, essa é a única fonte de esperança para Gaza.