A oposição aos que são tendenciosamente chamados de “assentamentos” não tem  nada a ver com os “assentamentos” propriamente ditos. Tem a ver com a questão de  Israel ter ou não o direito de decidir por si mesmo sobre as condições mínimas  de sua própria sobrevivência, ou se outros decidirão em seu lugar –  aparentemente incluindo um governo [americano] profundamente ignorante da  história da região e das reivindicações e direitos dos judeus para edificar  esses “assentamentos” (simplesmente vilarejos e pequenas cidades judaicas) em  áreas já destinadas a assentamentos judaicos pela Liga das Nações em seu Mandato  da Palestina. Este foi um dentre muitos mandatos criados após a Primeira Guerra  Mundial, vários dos quais levaram à criação do Líbano, da Síria, e do Iraque –  isto é, três dos agora 22 membros da Liga Árabe. Outros mandatos foram  destinados a dar provisão para alguns dos muitos outros povos não-árabes ou  não-muçulmanos – mas o Estado Curdo e o Estado Armênio, como originalmente  previstos, acabaram natimortos. Os judeus, por sua vez, não receberam toda a  Palestina Histórica, mas apenas a Palestina Ocidental, enquanto que novamente os  árabes ficaram com a parte do leão para eles mesmos.
Não são os “assentamentos” que estão em jogo, mas se Israel irá ou não  controlar a estreita fatia de território, a “Margem Ocidental”, sem a qual o  vale do Jordão e as rotas de invasão históricas a partir do leste não podem ser  controlados. Pois, se os assentamentos judaicos forem impedidos de existir, se a  decisão for tirada das mãos de Israel, e se suas reivindicações forem  deslegitimadas, isso será apenas parte de uma tentativa deliberada, interminável  e profundamente astuciosa dos árabes muçulmanos de empurrarem Israel para trás,  para fazê-lo desaparecer do mapa, enfraquecendo-o passo a passo e desmoralizando  sua população. Isso já foi escrito tantas vezes e dito tantas vezes na mídia  árabe que é indesculpável que aqueles que determinam as políticas continuem  fingindo não percebê-lo.
Esse processso seria conduzido em estágios. Mahmoud Abbas (o presidente da  Autoridade Palestina) é, no momento, o proponente principal dessa Solução em  Duas Etapas. É o que ele quer dizer quando fala: “Nós escolhemos a paz como uma  opção estratégica”. Não simplesmente “a paz”, mas “a paz como uma opção  estratégica”. Primeiro, a oposição às reivindicações dos judeus de qualquer  expansão natural nos que são tão erroneamente denominados “assentamentos”  condenaria os judeus, mas não os árabes, a impedirem sua população de crescer na  “Margem Ocidental”. Tal fato levaria inevitavelmente ao encolhimento do número  de judeus. Daria início ao processo de forçar Israel a ceder, a abrir mão  daqueles vilarejos e pequenas cidades, a desistir de sua reivindicação de  direito, que já foi reduzida em 77% quando a Grã-Bretanha criou, nos idos de  1922, o Emirado da Transjordânia a partir da Palestina Oriental. Inicialmente a  Palestina Oriental era para ser incluída no Mandato da Palestina.
Se Israel não pode permitir sequer o crescimento natural em seus  “assentamentos” – o que aparentemente significa que nenhum bebê deve nascer além  do nível da mera substituição dos habitantes que falecerem, enquanto os árabes  da “Margem Ocidental” e nas fronteiras pré-1967 de Israel, assim como os  muçulmanos que vivem em qualquer lugar, têm permissão para ter oito, dez ou doze  filhos por família, sabemos qual será o resultado. E se os assentamentos de  Israel forem paralisados, e retratados mesmo nos Estados Unidos – quanto mais  nas Nações Unidas – como ilegítimos, a pressão sobre Israel, que já é imensa,  provavelmente forçaria os israelenses, a despeito de sua própria necessidade de  sobrevivência, a desistirem da “Margem Ocidental”, que lhes oferece a única  profundidade estratégica que eles possuem. Israel, sem a “Margem Ocidental”, tem  nove milhas de largura [pouco mais que catorze quilômetros], desde Kalkilya até  o mar. Com facilidade poderá ser cortado em duas partes pelos árabes, que são  muito bem armados e assustadoramente mais numerosos. A menos que Israel esteja  preparado para usar armas nucleares nesse momento, o país pode ser atropelado.  Israel não deve apenas continuar a controlar o vale do Jordão e as rotas de  invasão históricas a partir do leste, mas deve também controlar os aqüíferos  debaixo da “Margem Ocidental”, pois estes lhe são absolutamente vitais.

Sempre se supôs que a “Margem Ocidental” fizesse parte da Palestina  Mandatória. Ela deve ser considerada legalmente como uma “parte não demarcada do  Mandato”, como observou Eugene Rostow, o já falecido reitor da Faculdade de  Direito de Yale, e como mostrou tão convincentemente o jurista australiano  Julius Stone em seu estudo legal exaustivo, extenso como um livro. Seu status  legal não foi afetado pelo confisco e domínio jordanianos de 1949 a 1967.  Portanto, quando os americanos sugerem, ou de forma mais ultrajante, “exigem”,  que Israel pare sua “edificação de assentamentos”, eles estão dizendo que o  Mandato da Palestina é nulo e sem efeito.
Essas pessoas, que têm a pretensão de dizer aos judeus de Israel, que estão  permanentemente enfrentando perigos, o que eles deveriam fazer, estão afirmando  que esses judeus não têm direito à estreita faixa de terra que constitui a  Palestina Ocidental. Elas estão dizendo que temos que aceitar a jihad  camuflada, aquela que, desde a Guerra dos Seis Dias, tem apresentado a  jihad contra Israel como uma campanha pelos “direitos legítimos” do “povo  palestino”, inventado às pressas (nunca mencionado pelos árabes antes da Guerra  dos Seis Dias, nem por qualquer diplomata árabe, ou figura política, ou  “intelectual” – a expressão “árabes palestinos” ou apenas “árabes” ou “árabes da  Palestina” – nunca o “povo palestino” – era o que se ouvia). Esse foi um truque  óbvio, seguido com muita determinação. E grande parte do mundo aceitou esse  contra-senso.
Mas, agora, os infiéis do mundo estão começando a perceber que o próprio  islamismo é um problema para eles. Para o grande pesar deles mesmos, os povos da  Europa Ocidental, por vários motivos, mas sempre com uma indiferença ou  negligência civilizacional que hoje é lamentada por todos eles, permitiram,  pelos últimos quarenta anos, a vinda de inúmeros muçulmanos para habitarem entre  eles. Também permitiram a vinda de muitos outros imigrantes. Mas nenhum daqueles  imigrantes, exceto os muçulmanos, trouxe consigo, em sua bagagem mental, não  meramente um credo estranho, mas um credo estranho e permanentemente hostil.
Pois o islamismo se baseia na idéia de um estado de guerra permanente entre  muçulmanos e incrédulos. Os muçulmanos têm o dever, às vezes coletivo e às vezes  individual, de participar da luta, ou da jihad, para remover todos os  obstáculos que possam impedir o alastramento e depois a dominação do islamismo.  É isto que os infiéis mais inteligentes e que enxergam mais longe estão  começando a reconhecer. E, à medida que mais e mais deles reconhecem tal fato,  serão também percebidas as monstruosas deturpações, baseadas em relatos  enganosos, por ódio ou ignorância, a respeito da guerra dos muçulmanos árabes  contra Israel, e as tentativas de Israel sobreviver a despeito da interminável  guerra realizada por todos os meios possíveis. Então, a anterior simpatia por  Israel, de que o país gozava antes de 1967 e das tentativas de descrevê-lo como  um violento agressor, retornará, pelo menos às mentes dos homens bem-informados  e de boa vontade.
Se Israel for forçado a limitar o crescimento natural de seus vilarejos e  pequenas cidades naquela parte da Palestina Mandatória que os jordanianos  tomaram e mantiveram até 1967, terá tropas ali e não civis. Daí, a afirmação  será que Israel é meramente um “ocupador militar”, por ter sido forçado a  remover seus civis, que representam aquelas reivindicações legais, históricas e  morais. O mundo não entende e não se solidariza com o empenho de Israel como a  vítima de uma Jihad Menor, que foi abertamente reconhecida como tal e  denominada assim por árabes e muçulmanos quando se dirigem a outros árabes e  muçulmanos, mas não descrita assim quando estão sorridentemente apresentando a  questão árabe ao Ocidente. Para o Ocidente, os que planejam destruir Israel  apresentam um caso de pretensa vitimização. Mesmo assim, eles não fizeram nada  para construir um Estado Palestino em Gaza, e existem com a única finalidade de  destruir o que os judeus, tão incrivelmente, com tantas dificuldades e pesares,  criaram a partir da “ruína” e da “desolação” descritas por todos os viajantes  ocidentais do século XIX que visitaram a Terra Santa.
Sem aqueles vilarejos e pequenas cidades judaicos, os chamados  “assentamentos”, Israel seria mais facilmente representado como não tendo  reivindicação nenhuma a não ser a da ocupação militar do que é absurdamente  denominado (pelos jordanianos) de “Margem Ocidental” – isto é, partes da Judéia  e de Samaria, como era chamada essa porção de terra por todos no mundo ocidental  até que os jordanianos lhe deram outro nome, assim como os romanos mudaram a  Judéia para Palestina e Jerusalém para Aelia Capitolina. Suas  reivindicações legais, morais e históricas seriam esquecidas. Meu Deus, elas já  foram esquecidas por muitas pessoas, até mesmo em Washington. Isso não poderia  acontecer.
Acima de tudo, deve haver, para a sanidade moral de Washington, dos EUA e de  todo o Ocidente, algum tipo de preservação do que pode apenas ser chamado de  senso de justiça, ou de igualdade. Em época de contínuo esbanjamento de homens,  dinheiro e materiais no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, a confusão sobre o  islamismo e a ignorância dele, que causam tal desperdício (totalmente  desnecessário se os mais preparados fossem ouvidos), também se revela na  tentação do apaziguamento. E, assim como foi com Chamberlain e Daladier, em 1938  em Munique, nossos atuais líderes do mundo ocidental, não sabendo o que fazer  sobre o islamismo, e recusando-se conscientemente a verificar mais profundamente  o assunto, possivelmente por medo do que poderão encontrar, estão dispostos a  conciliar, e a moeda que eles oferecem é a segurança e a seguridade de um país  minúsculo.
Ao sacrificar esse país, por ouvirem as exigências dos nazistas ou dos  muçulmanos árabes, as potências ocidentais – naquela época a Grã-Bretanha e a  França, e hoje os Estados Unidos – esperam tornar as coisas melhores de certa  forma. Não tornarão. Os Sudetos não saciaram o apetite de Hitler, pelo  contrário, o aguçaram, e mostraram-lhe a pusilanimidade da França e da  Grã-Bretanha. Forçar Israel a retroceder passo a passo para as Linhas do  Armistício de 1949, as “linhas de Auschwitz”, como querem Mahmoud Abbas e os  jihadistas vagarosos (rei Abdullah, da Jordânia, rei Abdullah, da Arábia  Saudita, e todos os demais), apenas levará à destruição de Israel.
Justiça. Igualdade. Um sentido de história, e da tribo mais perseguida na  história humana, os judeus. Um sentido de proporcionalidade, sabendo que os  árabes são mais ricamente dotados, com terras e bens naturais, que qualquer  outro povo na terra. Mesmo assim, em todas as terras que controlam, eles negam  aos demais habitantes, a todos os não-muçulmanos e não-árabes, qualquer alusão  não apenas a independência ou a autonomia, mas até mesmo a algo como igualdade  com os árabes muçulmanos no comando.
Os judeus, como os coptas, como os maronitas, como os curdos, como os negros  africanos do Sudão, como os berberes, como tantos outros povos não-árabes e  não-muçulmanos, ao longo dos anos têm sido maltratados por esses muçulmanos  árabes em todo o Oriente Médio e no Norte da África. Eles merecem o que pediram,  e os líderes inteligentes que tiveram que tratar com os remanescentes do Império  Otomano sabiam que eles mereciam o que pediam: o direito de comprar terras do  Estado Otomano, e de edificar um país, e de serem os herdeiros daquelas terras  pertencentes àquele Estado. Isso era tudo o que pediam, e foi o que ganharam.  Agora os árabes, determinados a negar a existência àquela nação-estado infiel,  estão divididos entre os que, como os jihadistas rápidos do Hamas, querem ir  para a matança imediatamente, e os que, como os jihadistas vagarosos do Fatah,  vêem a sabedoria de desconstruírem Israel pacientemente, passo a passo, com a  ajuda dos americanos e dos europeus (moral e geopoliticamente) confusos.
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| Rahm Emanuel, chefe de Gabinete da Casa Branca, é judeu. Seu pai  nasceu em Israel e foi membro do Irgun (grupo paramilitar sionista que operava  na Palestina antes da criação do Estado de Israel). Apesar disso, ele participa  das pressões sobre Israel.. | 
Nada disso é inventado. Basta ler os muitos comentaristas muçulmanos sobre o islamismo. Leia também os comentaristas não-islâmicos. Leia Joseph Schacht, leia Antoine Fattal. Leia Bassam Tibi, leia Majid Khadduri. Verifique o que eles têm a dizer sobre Hudiabiyya (o tratado firmado por Maomé em 628 d.C.) e sua continuidade como o modelo principal para todos os pactos subseqüentes com não-muçulmanos.
Não é suficiente ser meramente “pró-Israel” se você não se importar em  aprender sobre a natureza da guerra que está sendo travada contra Israel, e  contra todo o mundo infiel. Pois, se você é um daqueles que pensa que o fato de  “ser judeu” ou “ter um pai do Likud” ou “ser pró-Israel até o pescoço” (sombras  de Rahm Emanuel, o chefe de Gabinete de Obama) lhe permite apoiar, ou parecer  apoiar, as políticas que ameaçam a sobrevivência de Israel porque são baseadas  em uma compreensão errada da natureza dos tratados com árabes-muçulmanos, e da  natureza da guerra – uma guerra sem fim, mas que é administrável, que pode ser  contida, através da invocação da “Darura” ou necessidade – então você está  redondamente enganado e será surpreendido.











